Tempero da Vida

COMIDA DE PRAIA/COMIDA DE RUA
Rosane Vidinhas
21 de março de 2017

O carrinho de frutas do Sr. Manoel

“Sr. Manoel, qual é a boa de hoje?”

Quantas vezes meu lado dona de casa já escutou isso de uma moradora ou trabalhador da redondeza…eu, que estou ali, escolhendo minhas frutas no carrinho do Sr. Manoel em plena Olegário Maciel.

Sr. Manoel tem as mãos marcadas pelo trabalho na roça de Marataízes, no Espírito Santo. As linhas profundas no seu rosto aparentam mais que seus 42 anos.

Desde pequeno, sua realidade era o lavrar da terra. Seus pais plantavam, cultivavam e tiravam seu sustento do cultivo do abacaxi.

carrinho do Sr. Manoel em plena Olegário Maciel, Barra da Tijuca

 

Não permitiram que os filhos estudassem, ele e os irmãos mal conseguiram terminar a quarta série. Todos tinham que trabalhar na roça.

Os irmãos mais velhos começaram a ganhar estrada com caminhão repleto de abacaxi, outras terras precisavam conquistar. E aos 12 anos, Manoel, na boléia do caminhão, também já arregaçava as mangas para vender o fruto da terra de seus pais. E chegaram a Petrópolis, região serrana do Rio.

Mas o mundo ainda era maior e Manoel aos 16 anos veio vender abacaxi no grande Rio de Janeiro, principalmente nos bairros Leblon e Ipanema.

Há dois anos, tem seu carrinho de frutas na Avenida que é o coração da Barra da Tijuca, onde se centraliza todo o comércio do bairro. Caminhão ficou difícil devido a fiscalização, diz Sr. Manoel.

carrinho do Sr. Manoel em plena Olegário Maciel, Barra da Tijuca

Tentou exercer outras atividades e até voltou para a roça. Hoje, reconhece que mexer com terra, é para poucos e se você desembrenhar… não consegue voltar para a roça não…

Seu carrinho de frutas é repleto de coisas boas e bem selecionadas.  Importante: você está junto com a safra, porque Sr. Manoel também está. Vai comprar melhor.Tá na época do caqui? o vermelho…atraente que só. Época de goiaba? Fartura e preço ótimo. Fruta no período de safra é mais gostosa, mais nutritiva e mais barata.

O abacaxi é sua estrela maior, se veio da infância cultivando essa fruta. Nos meses de ápice, quando tem abacaxi em grande quantidade, novembro e dezembro, vira festa! Da outra esquina você sente o perfume da fruta, que ele descasca e corta ao gosto do freguês, quando não espeta o abacaxi num palito e você sai se lambuzando pela rua. Arrisco até a dizer, que nos meses que não há abacaxi, ou ele fica triste ou ansioso para a safra chegar.

abacaxis do Sr. Manoel em plena Olegário Maciel, Barra da Tijuca

Imagino que para ele cheiro de abacaxi lembra pai e mãe, é família. Afinal, é toda uma história de vida ligada ao cultivo do abacaxi.

“Sou grato a Deus, que é único.”diz Sr. Manoel, que com suas frutas faz vidas mais doces e saudáveis.

Ele já é parte do cenário do bairro. Nasceu, vive e porque não dizer, vai morrer com toda sua essência de homem do campo.

Ameixas

Seriguelas

Mangas

Goiabas

Noni

Na voz de Carlos Fernandes, a voz de ouro, é cultura em Marataízes saber da aproximação do caminhão de abacaxi.

É abacaxi de Marataízes…

…é doce doce parece que tem mel…

…está na porta da sua casa…

…vamos fazer fila mas não empurra não…

…dá pra fazer doce… fazer torta…

…é fruta selecionada…

…é bom pra fazer xarope, é bom pra fazer expectorante…

…o preço é pequenininho, o preço a gente combina…

 

 

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