Tempero da Vida

Viagens
Rosane Vidinhas
14 de novembro de 2017

A casa de Jorge Amado e Zélia Gattai em Salvador,eu fui!

Fui à casa de Jorge Amado e Zélia Gattai (onde viveram por mais de 40 anos, num casamento que durou mais de 56 anos) no bairro Rio Vermelho, em Salvador, Bahia.

Tomei café, sentei no mesmo banco do jardim da casa, onde Jorge dava entrevistas. Conheci muitos dos seus hábitos naquele lugar tão aconchegante. Ah! Claro! registrei a cozinha e uma porção de utensílios usados por Zélia, além de lembranças de amigos e aquilo que traziam das inúmeras viagens que fizeram. Uma cozinha de muitas cores. É para respirar CULTURA BRASILEIRA.

                   Eu, Rosane Vidinhas, e meu filho jornalista Luiz Renan

                       Jorge Amado e Zélia Gattai

O tão tradicional Pãozinho Delícia da Bahia, na Casa do Rio Vermelho tem nome de Pão Amado           (http://www.paoamado.com.br)

Me identifico com uma das frases de Jorge Amado: “ A amizade é o sal da vida, se você tem amigos, tem tudo.”

Jorge Amado publicou 49 livros e Zélia Gattai, aos 63 anos de idade, começou a escrever suas memórias. O livro de Zélia que marcou sua estreia, foi “Anarquistas, graças a Deus”. Nos presenteou com mais 15 obras, dentre elas alguns livros infantis. Antes, Zélia ajudava Jorge, dando palpite em seus personagens.

                        Cadernos de receitas de Zélia Gattai

Enquanto percorríamos a casa, parecia sentirmos a presença deles, como se fossem chegar a qualquer momento.

Jorge e Zélia adoravam receber os amigos e com muita fartura. Nos almoços que davam, não existia um prato só. Uma de suas cozinheiras prediletas era Dadá.

A cozinha da casa, é um ambiente com alimentos cenográficos que se misturam aos objetos e móveis que pertenciam ao casal. A equipe conseguiu de forma didática apresentar as comidas típicas da Bahia e os temperos tão utilizados.

                     Alimentos cenográficos. Os pratos típicos baianos.

                       Os temperos: páprica,alecrim,cravo,canela,etc…etc…tão presentes na culinária baiana.

                 A geladeira vermelha da marca Frigidaire.

“Em teu corpo Tereza / Todinho cheio de mel / Como pode ser pesado / Se é um pedaço do céu?!” Tereza Batista

Muitos pratos decorando as paredes, presentes de amigos e lembranças de viagens.

Existe um dispositivo que você clica e escolhe o prato do qual quer saber a receita e como é feito. Numa tela, e automaticamente, Dadá explica o passo a passo. Coisas da tecnologia que se mistura com tanta poesia.

Chef Dadá na tela, com sua risada característica, ensinando um dos pratos baianos.

O prato predileto de Jorge Amado era Arroz de Hauçá, uma comida muito elaborada, do norte da Nigéria e traduzida para ele. A receita leva arroz, leite de coco, dendê, camarão fresco, camarão seco, carne seca desfiada, cebola, alho, pimenta, coco ralado e coentro.

                        Arroz de Hauçá

A sobremesa predileta de Jorge Amado era Creme do Homem, uma espécie de flan de coco com cobertura de calda de chocolate.

                        Creme do Homem

Os personagens queridos nas obras de Jorge Amado, comiam bem. E estão atrelados à cozinha baiana. Assim como Florípedes, ou Flor, Dona Flor… que dava aulas de culinária, com muita sedução, para as mulheres da sociedade baiana.

 

Vadinho, do romance “Dona Flor e seus dois maridos”, adorava moqueca de siri mole.

No livro Gabriela, Cravo e Canela, Gabriela ficou conhecida em Ilhéus por cozinhar bolinhos, moquecas e vatapás para os Senhores do Cacau.

Segundo a pesquisadora Myriam Fraga:  “Não é só culinária no sentido de fazer comida, é como comem os personagens e, através da comida, fica evidenciado o grau de pertencimento deles a um tipo de determinada cultura e ao grau social”.

A filha de Jorge Amado, Paloma Amado, em 2003 lançou o livro “A culinária baiana de Jorge Amado”, com 142 receitas citadas por personagens. Em 2014, este livro foi reeditado com uma nova interpretação feita pela Chef Rita Lobo. Paloma relata que o pai dizia: “personagem tem de ser vivo, de carne e osso, e se não comer, morre”.

                                                    Primeira edição,ano de 2003

                                                  O livro com releitura da Chef Rita Lobo, relançado em 2014

O Memorial da Casa do Rio Vermelho, foi curadoria do arquiteto Gringo Cardia, junto à família que não poupou esforços. Estão em exposição as roupas, objetos de uso pessoal, cartas que o casal tanto gostava de trocar com familiares, amigos e políticos… ali conhecemos seus discos, livros, a fé religiosa no candomblé muito presente na decoração, os sapinhos retratados por todos os cantos, e como visitaram mais de 100 países, há lembrancinhas cuidadas por toda parte.

                        A máquina de escrever, óculos,canetas…objetos pessoais de Jorge Amado.

                

Há muita projeção nas paredes, que contam histórias, espaços com horas de gravações feitas por personalidades, artistas e depoimentos da família e amigos. O som de Dorival Caymmi ecoando pela casa, aumenta a magia.

Existem horários com visitas guiadas. Confira no site da Casa.

     Eu, Rosane Vidinhas e meu filho Luiz Renan. Uma imersão na cultura baiana. É Brasil!

Passeio imperdível para quem vai a Salvador.

Existe também a Fundação Casa de Jorge Amado (http://www.jorgeamado.org.br ) bem no centro do Pelourinho, onde conferimos muitas fotos do casal com a família, prêmios, um acervo também muito interessante. Não confunda e visite os dois espaços. Vale a pena!

Na porta da casa à Rua Alagoinhas 33, a frase:

“SE FOR DE PAZ, PODE ENTRAR.”

http://casadoriovermelho.com.br

 

 

© 2017 Tempero da Vida. Todos os direitos reservados.

Outlab.